O fogo não perdoou naquele verão de 1998, e o lavrado queimou durante dias e dias, não deixando muito que se ver de belo de pé. Animais mortos aos montes, terra pintada de preto, fumaça invadindo as casas em Boa Vista, um verdadeiro pandemônio, com saldo de crianças e mais crianças com problemas respiratórios e muitos olhos irritados por conta da grandiosidade do desastre ambiental em que se meteu algum desavisado que costuma atear fogo pra renovação de seu pasto e que está cansado de saber que a prática da queima tem que ser controlado por quem é capacitado para tal, com responsabilidade de conduzir com uma brigada de combate ao incêndio, não muda o hábito de ser Nero.
A imprensa do mundo inteiro se voltou para Roraima, uma verdadeira avalanche de repórteres da mídia internacional, tudo como nunca havia sido antes e com um ar de que as coisas poderiam sair com muitas outras informações a cerca do que é o estado mais jovem da federação brasileira. Mas perdemos essa oportunidade.
Perdemos porque não tínhamos nos preparado para um acidente de proporções tais que nos levasse a ver que o mundo não veria apenas dor, mas luz na terra de makunaima, onde o todo é pouco sobre a mesa dos desiguais, e que a mão do poder que gera a fome, desperdiça com ódio o sabor do medo que corre nas veias dos homens da tribo, e não deixa que mostre a outra face do lavrado, onde vivem dezenas de famílias que perderam quase tudo, menos sua dignidade, e lutam com unhas e dentes para construírem seus sonhos, para reconstruir suas histórias e não perder o bonde, onde a cultura de um povo não deve esquecida ser e nem deve ser renegada.
Mais uma vez a televisão nacional mostrava nossa fronteira de um ângulo não muito turístico, parecendo um tanto maldoso, onde o maldito é furo de reportagem e o extraordinário não passa de um detalhe e passa batido.
Precisamos divulgar nossa aldeia, necessitamos olhos de curiosidade, não vamos chegar a lugar nenhum com as costas dadas para o grande fluxo de pessoas que fazem de suas férias caminhos pela Amazônia, e que não chegam a Boa Vista por falta de convite.
Boa Vista quer receber seus visitantes com arte, com sabor de buriti, dando as boas vindas aos estrangeiros com farinha na veia, como diz o poeta popular e não com brasas em chamas, ao não ser a chama da emoção, a luz do canto do artista, a chama acessa do coração em harmonia com a vida e com a natureza.
Vamos nos lembrar do passado para não cometermos os erros no futuro, e aprender com as necessidades, revelando crescimento interior, e respeito pelo próximo.
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