quinta-feira, 26 de maio de 2011

dos olhos do medo que falam
dos dentes ferozes do cão
na mente que enfrenta outra alma
do peso que está na canção
somente quem for passegeiro
somente quem for avião
teu medo na mão da miséria
segredo do teu coração

bandido ou falsário

no meio de qualquer tolice
na alça que tira o foco da mesmice
sem preocupação com a vanguarda
não sou eu quem faz a estrada
sou eu quem camufla o estardalhaço
nem pedágio nem palhaço
sou teu fel na primavera
nem vem com essa conversa que te espera
pois meu samba bate dentro do conflito
nem que tú soltes outro grito
renegarei o meu inverno
sou bandido que dá torto por correto
sou falsário dando voltas quando pruma
nesse mar de borboletas que te arruma
nesse rio de aflito e de cansaço
porem salto noutro braço que te agarro
vens comigo pois sou sangue que espuma

sexta-feira, 20 de maio de 2011

vendaval dos sonhos

nem todo vendaval é passageiro
nem todo carnaval é diversão
sou matuto dando voltas no canteiro
sou chibata dando sova no peão
no meu sonho vendaval é diamante
no meu canto sou quem planta emoção

na matraca que rebenta o silencio
nesse sonho vendaval é coração


 

quinta-feira, 19 de maio de 2011

deixe

Deixe-me apaixonar
Não sou o fel de ostra
Tenho mar salgado a navegar
Tenho mel de orquídeas na língua
Meus dentes são de marfim
Minha voz o girassol
Deixe-me apaixonar
Sou filho do cata-vento
Meu verso voa no vento
Sou bicho igual ao planador
Canto o fim do silencio
Sou maior que o tormento
Deixe que eu lhe mostre a vela
Deixe que eu lhe não jogue a terra
Meu violão tem pernas
Minha canção tem sol
Deixe-me apaixonar
Deixe que eu tenha conflitos
Meu canto serve de grito
Deixe que eu grite amor

é fogo

O fogo não perdoou naquele verão de 1998, e o lavrado queimou durante dias e dias, não deixando muito que se ver de belo de pé. Animais mortos aos montes, terra pintada de preto, fumaça invadindo as casas em Boa Vista, um verdadeiro pandemônio, com saldo de crianças e mais crianças com problemas respiratórios e muitos olhos irritados por conta da grandiosidade do desastre ambiental em que se meteu algum desavisado que costuma atear fogo pra renovação de seu pasto e que está cansado de saber que a prática da queima tem que ser controlado por quem é capacitado para tal, com responsabilidade de conduzir com uma brigada de combate ao incêndio, não muda o hábito de ser Nero.
A imprensa do mundo inteiro se voltou para Roraima, uma verdadeira avalanche de repórteres da mídia internacional, tudo como nunca havia sido antes e com um ar de que as coisas poderiam sair com muitas outras informações a cerca do que é o estado mais jovem da federação brasileira. Mas perdemos essa oportunidade.
Perdemos porque não tínhamos nos preparado para um acidente de proporções tais que nos levasse a ver que o mundo não veria apenas dor, mas luz na terra de makunaima, onde o todo é pouco sobre a mesa dos desiguais, e que a mão do poder que gera a fome, desperdiça com ódio o sabor do medo que corre nas veias dos homens da tribo, e não deixa que mostre a outra face do lavrado, onde vivem dezenas de famílias que perderam quase tudo, menos sua dignidade, e lutam com unhas e dentes para construírem seus sonhos, para reconstruir suas histórias e não perder o bonde, onde a cultura de um povo não deve esquecida ser e nem deve ser renegada.
Mais uma vez a televisão nacional mostrava nossa fronteira de um ângulo não muito turístico, parecendo um tanto maldoso, onde o maldito é furo de reportagem e o extraordinário não passa de um detalhe e passa batido.
Precisamos divulgar nossa aldeia, necessitamos olhos de curiosidade, não vamos chegar a lugar nenhum com as costas dadas para o grande fluxo de pessoas que fazem de suas férias caminhos pela Amazônia, e que não chegam a Boa Vista por falta de convite.
Boa Vista quer receber seus visitantes com arte, com sabor de buriti, dando as boas vindas aos estrangeiros com farinha na veia, como diz o poeta popular e não com brasas em chamas, ao não ser a chama da emoção, a luz do canto do artista, a chama acessa do coração em harmonia com a vida e com a natureza.
Vamos nos lembrar do passado para não cometermos os erros no futuro, e aprender com as necessidades, revelando crescimento interior, e respeito pelo próximo.

livres

Seremos livres pra viver
Seremos amores
Na nossa emoção de conhecer
No melhor de nossas almas
Seremos firmes pra cantar
Seremos cantores
Na nossa missão de pertencer
No maior de nossos carmas
Seremos assim por toda a vida
Pai e mãe quando do sono
Irmão confidente para os deleites
Se estivermos felizes
Se passarmos pelas praias do nordeste
Se nos dermos à mão na cordilheira
Se a galera gritar com seus tambores
Seremos livres pra viver
Seremos vida e nada mais

guerra urbana

Quando estamos em pé de guerra, pelos anos que sofremos de lutas e de desconforto para nossas vidas se curvarem diante dos demônios da nossa visagem, e não temos nada que faça a mudança dos folguedos nos arraiais da intolerância de nossas mentes sem sombras, todos os cantos encherão a sala dos incondicionados e levarão as pedras da bondade para a batalha do caos urbano na fronteira do estar e do compreender, nem sempre lembraremos das almas dos povos esquecidos e nem sempre falaremos para a vida que se passa na calçada indo ao encontro do desespero e da incomunidade, estaremos fazendo o mesmo que aqueles a quem nós comumente jogamos essas pedras e eles estarão confortavelmente nos assistindo cair pela força dessa guerra que não sabemos quem iniciou e quando vai terminar.